Uma das maiores áreas contínuas de Mata Atlântica do Brasil, com cerca de 36 mil hectares, o Parque Estadual do Rio Doce (Perd) completa 75 anos em 2019. Por se encaixar na categoria de Unidade de Conservação Ambiental devido à sua biodiversidade e ao seu sistema lacustre, composto por 42 lagoas, em especial a Dom Helvécio, o Perd tem sido foco de estudos. Sua importância vem sendo constatada por pesquisas realizadas pela UFMG com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). O parque está localizado na região mineira conhecida como Vale do Aço, a 248 km de Belo Horizonte.
Uma das pesquisas – Mycoendosimbiosis: preservação da biodiversidade de fungos endofíticos e suas plantas hospedeiras presentes em fragmento nativo da Mata Atlântica do estado de Minas Gerais – é coordenada pelo professor do Departamento de Microbiologia, Luiz Henrique Rosa, e busca coletar folhas e sementes de espécies vegetais típicas da Mata Atlântica para realizar um estudo sobre a importância dos fungos na preservação ambiental.
Segundo o pesquisador da UFMG, a idéia surgiu a partir de trabalhos desenvolvidos em parceria com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA-ARS/EUA), que tinha como objetivo encontrar plantas colonizadas por fungos que, extraídos dos tecidos vegetais, são utilizados como “máquinas vivas” produtoras de substâncias herbicidas e pesticidas de baixa toxicidade, em comparação com os agrotóxicos utilizados atualmente.
Ainda de acordo com Luiz Henrique, “a proposta é utilizar a rica biodiversidade da Mata Atlântica brasileira como fonte de substâncias úteis para agricultura, menos nocivas ao meio ambiente e, consequentemente, aumentar a produção agrícola pelo combate de pragas e diminuir a taxa de desmatamento, demonstrando que a biodiversidade de fungos presentes no bioma pode gerar lucros para a economia do Brasil”.
Uma outra pesquisa – Estudo de genética da conservação de espécies animais bioindicadoras da recuperação ecológica na Bacia do Rio Doce – está sob a coordenação do professor Fabrício Rodrigues Santos da UFMG e tem por objetivo estudar espécies de aves, abelhas, morcegos e tartarugas-marinhas que podem servir como bioindicadoras do processo de restauração ecológica pós-desastre de Mariana, no vale do Rio Doce em Minas Gerais e no Espírito Santo (ambiente marinho), associadas a serviços ecossistêmicos como polinização, dispersão de sementes e sensibilidade a contaminantes na água.
Santos explica que “a proposta consiste na elaboração de um protocolo diagnóstico que considere as dinâmicas populacionais destas espécies animais de ambientes terrestres e aquáticos afetados pelo rompimento das barragens de Mariana. Serão utilizados dados de diversidade genética e análises de parentesco, demografia e genética populacional para estimar parâmetros importantes para utilizá-los como bioindicadores da qualidade ambiental atual e da futura restauração do Rio Doce”.
Também do Instituto de Ciências Biológicas, o professor Francisco Antônio Barbosa destaca os trabalhos desenvolvidos no Laboratório de Limnologia, Ecotoxicologia e Ecologia Aquática (Limnea/ICB-UFMG). O Limnea, sob sua coordenação, pesquisa distintas áreas ligadas a ecossistemas aquáticos, com foco em estudos que envolvam a qualidade da água e conservação da biodiversidade aquática e dos processos ecológicos que a influenciam há mais de 20 anos.
Barbosa aponta que, dentro do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (Peld/Rio Doce), com apoios da Fapemig, CNPq e Capes, já foram realizados inúmeros estudos importantes. O pesquisador conta que um deles mostrou que a espécie de primata exótica está cruzando com a espécie nativa produzindo híbridos. Segundo ele, isso, em longo prazo, é uma ameaça à diversidade de primatas, que tem sete espécies na área.
Ainda segundo Barbosa, o Parque Estadual do Rio Doce é fundamental para a persistência regional das espécies de mamíferos da bacia. O pesquisador ainda explica que, de acordo com relatório disponível aqui, existe relato confirmado de ocorrência de pelo menos uma espécie de primata exótico no Perd, o mico-estrela (Callithrix penicilatta), que está hibridizando com a espécie nativa (C. geofroyi), indicando a perda de diversidade genética. “Merece destaque, também, outro resultado que verificou a extinção local de sete espécies de peixes nativos em consequência da introdução de espécies exóticas de peixes”, aponta Barbosa.
Também de acordo com Barbosa, desde 1999, o Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração vem trabalhando no Perd e entorno. Dentre outros resultados relevantes, obteve-se a descrição de três espécies novas para a Ciência, sendo uma de peixe e duas de micro crustáceos. O pesquisador destaca a importância do treinamento e formação de pessoal nos níveis de graduação, Mestrado e Doutorado, além de treinamentos de Pós-doutores. O projeto contempla estudos de vários grupos de organismos. São eles: Archaea/Bacteria, Cianobactérias, microalgas, micro crustáceos, insetos, peixes, moluscos, plantas superiores, mamíferos, com destaque para felinos, e avaliação de processos ecológicos, tais como ciclagem de matéria orgânica, metabolismo aquático, emissão de gases de efeito estufa, fotodegradação de matéria orgânica e estudos de cenários da ocupação antrópica no entorno do Perd.
O professor Santos faz um alerta para possíveis ameaças à conservação do parque e destaca a importância da existência de pesquisas que buscam soluções para eventuais desastres e desequilíbrios ambientais, bem como dos trabalhos desenvolvidos no Limnea. Segundo ele, antes a comunidade ribeirinha utilizava das margens do Rio para se alimentar, hoje, como não encontra o alimento (em função do desastre de Mariana e consequente mortandade de peixes e outros animais ocasionada pelo rejeito da mineração), acaba por entrar nos limites do Parque, o que é perigoso, pois caçar animais e pescar em área protegida, além de crime ambiental, pode implicar um desequilíbrio ecológico e ameaçar espécies protegidas.
Com informações da Assessoria de Comunicação Social da Fapemig
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